BOLETIM IMLB

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BOLETIM NÚMERO 03 IMLB/MPMPL- REFORMA POLÍTICA DO POVO

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Inicio da série de entrevistas com Adriano Benayon - IMLB

Leia esta e outras matérias de interesse no site do Mãos Limpas Brasil.
http://www.maoslimpasbrasil.com.br/
* Adriano Benayon é doutor em economia pela Universidade de Hamburgo, ex-diplomata do Itamarati e autor do livro Globalização versus Desenvolvimento .


Prezados amigos. Estamos dando inicio a uma série de entrevistas com o economista Adriano Benayon. Nesta 1a. entrevista questionamos este defensor ferrenho dos interesses nacionais, a respeito da ação predatória dos grandes bancos instalados no Brasil. Na nossa sessão de colunistas você encontrará o artigo "Bancos Predadores" na integra. Todas as entrevistas com Benayon serão baseadas em nossa "Ideologia Zero" através da qual mergulhamos nos assuntos controversos sem nenhum "part pris", em busca exclusivivamente dos fatos e da explicação dos fatos, isentos de qualquer posicionamento ideológico prévio, de esquerda ou de direita, liberal ou conservador, pró-privatização ou pró-estatização. Se você quiser aderir ao espirito cientifico que caracteriza a Ideologia Zero, pode recorrer a estes procedimentos lógicos:

Adriano Benayon


BANCOS PREDADORES
1. A grande mídia é extremamente aberta às versões idílicas e fantasiosas da realidade, veiculadas por gente ligada aos concentradores da finança, os quais acionam os cordéis das marionetes aboletadas no Banco Central e demais órgãos com poder sobre a moeda e o crédito. Não é para menos, haja vista, por exemplo, as matérias pagas, com dezenas de páginas inteiras, dos balanços dos grandes bancos, a cada trimestre.

Ideologia zero - Nada a opor.

2. Exemplificativo da associação entre eles e a grande mídia é a publicação mensal, pela Folha SP, de artigos do presidente do notório banco estrangeiro Santander, patrocinador das palestras de FHC. O Santander recebeu deste, em 2000, a doação do BANESPA, o maior banco estadual do mundo, com extensa rede de agências por São Paulo e todo o Brasil. Essa doação fez parte do maior festival do Mundo de benesses escandalosas para o capital estrangeiro, as “privatizações”.

Ideologia zero - Nada a opor.

3. Comparados a essas operações, os casos de corrupção a que a mídia costuma dar ênfase, assemelham-se a meras travessuras de crianças. Nas privatizações, o Estado (União, Estados e municípios) alienou patrimônios inestimáveis e, ainda, gastou, para isso, centenas de bilhões de reais em subsídios e outras vantagens. Os preços dos leilões da privatização, além de ridículos em relação aos patrimônios alienados, não foram senão uma cortina de fumaça para ocultar a realidade de que os preços foram negativos.

Ideologia zero - Nada a opor

4. Vejamos o que diz o presidente do Santander em artigo na Folha SP, de 05.12.2010, intitulado o “O Papel dos Bancos”:
“De forma simplificada, cabem aos bancos três importantes papéis na sociedade: 1) proteger e rentabilizar a poupança dos indivíduos e das empresas; 2) financiar o consumo e o investimento; 3) prover serviços de pagamento e de recebimento.”

5. Na realidade, os bancos fazem estas coisas com o dinheiro dos outros: a primeira é receber dos clientes depósitos à vista, sobre os quais não pagam juros, e ganhar juros do Banco Central, sobre o percentual dos depósitos recolhidos a essa instituição.

Ideologia zero - Todo o mundo sabe que os bancos ganham dinheiro usando o dinheiro dos outros. Por isso, há muitos anos eu não tenho conta em banco. Agora sou obrigado a ter por causa do Mãos Limpas. Em outubro abri uma conta na CEF porque um cliente meu mandou. Essa conta da CEF será usada provisoriamente para o Mãos Limpas enquanto não abrirmos uma conta em nome do Mãos Limpas, o que requer a eleição de um novo coordenador que more na cidade de São Paulo. Mesmo assim é uma conta poupança só movimentada em último recurso. E nada de talão de cheque.

6. A segunda é aplicar em títulos do Tesouro e fazer empréstimos a empresas ou a pessoas físicas com a parte dos depósitos não recolhida ao BACEN. Nos empréstimos e financiamentos às empresas cevam-se com juros a taxas equivalentes, em média, a pelo menos três vezes o valor decorrente da taxa SELIC, de 13% aa., que auferem nos títulos do Tesouro.
Ideologia zero - Ok.

7. Essa, cerca de 7% aa., descontada a inflação, é de longe a mais alta praticada em todo o Planeta, sem que haja razão válida alguma que o justifique. Nos empréstimos e financiamentos a pessoas físicas as taxas vão de quatro a doze vezes os 13 pontos percentuais da SELIC (52% a 156%), e até mais que isso nos cartões de crédito.
Ideologia zero - Aqui uma dúvida: a taxa de juros não é o meio indispensável para se combater a inflação?

8. As vítimas com renda regular, como salários, são saqueadas através de taxas de juros não tão altas, embora ainda de usura, na modalidade que teve enorme expansão nos últimos anos, o crédito consignado, que propicia aos agiotas não ter qualquer risco, recebendo as prestações descontadas em folha. Chamam isso de democratização do crédito, um modo de extorquir dinheiro de forma massificada.

Ideologia zero - Mas este crédito não é uma mola propulsora do mercado interno?
9. A terceira atividade destina-se aos clientes de maior renda, a quem são oferecidas aplicações em títulos e em fundos de investimentos, que remuneram as poupanças, mas evidentemente proporcionado aos bancos taxas e comissões nada desprezíveis.

Ideologia zero - Ok.

10. Outro papel dos bancos, segundo o presidente do Santander, seria “financiar o consumo e o investimento”. Nessa “tarefa” obtêm lucros desmedidos, porque, como explicado nos itens anteriores, os bancos “trabalham” com dinheiro que não lhes pertence, em geral nada pagando para dispor dele, e obtêm lucros fabulosos através dos juros.

Ideologia zero - Até o Vice-Presidente de Lula declarou publicamente que a taxa de juros praticada no Brasil é um roubo.

11. Não admira que os lucros dos bancos no Brasil cresçam a taxas vertiginosas desde o início dos oito anos do governo radicalmente entreguista de FHC e, ainda mais, nos oito anos de Lula. Em 2009, os três maiores bancos (BB, Itaú e Bradesco) somaram lucros oficiais de quase R$ 30 bilhões, cifra que será superada em 2010.

Ideologia zero - Ok.

12. Com o dinheiro dos depositantes, do qual os bancos podem emprestar e aplicar um múltiplo, os bancos criam moeda e crédito. Que privilégio, que concessão! Eles têm uma patente que permite fabricar dinheiro, simplesmente lançando em seus livros (computadores) depósitos nas contas dos mutuários dos empréstimos. Esses mutuários, ao contrário, têm que ralar, têm que produzir para pagar ao banco as amortizações e os juros, e esse dinheiro se torna dinheiro do banco.

Ideologia zero - Ok.

13. Não bastasse isso, praticam também o “dollar carry-trade”, que consiste em converter em reais os dólares captados a juros negativos i.e., a taxas inferiores à depreciação dessa moeda fajuta, a fim de mamar com as altíssimas taxas de juros praticadas no Brasil. Os dólares estão sendo emitidos, sem limite algum, aos trilhões, pelo FED, para ser dados aos grandes bancos e para adquirir destes os títulos podres (derivativos mal lastreados), salvando-os das consequências de suas jogadas fracassadas.

Ideologia zero - Ok.

14. No caso específico do Santander, este chegou a remeter a paraísos fiscais, em 2009, lucros obtidos no Brasil de US$ 2 bilhões, para cobrir rombos de operações especulativas em mercados financeiros do exterior. Em 2009, 20% dos lucros mundiais do Santander, de quase 9 bilhões de euros, vieram do Brasil, graças à privatização, que lhe faz até hoje faturar alto com a rede do BANESPA, herdada mais do que de graça.
Ideologia zero - Porque o sistema financeiro precisaria exagerar tanto? Tratando-se de capitalismo, não bastaria aos bancos fazerem um ótimo negócio? O capitalismo financeiro seria tão diferenciado do capitalismo industrial? Ou haveria uma razão psicológica para explicar as diferenças de comportamento?

15. Como partícipe destacado dos bancos fraudadores que geraram o colapso financeiro mundial, cuja primeira grande crise se deu em 2007/2008, o Santander é um dos mais encalacrados, por exemplo, com as bolhas imobiliárias da Espanha, do Reino Unido e outras. Assim, muitos estão rejeitando seus títulos.

Ideologia zero - As empresas capitalistas em geral não têm o menor interesse em se encalacrarem. Por que os bancos teriam?
16. Milhares de clientes do Chile queixam-se de dinheiro sumido em suas contas. Milhares na Espanha sofrem devido a práticas fraudulentas nas hipotecas. No Brasil, são também vultosas as reclamações sobre os serviços do Santander, mas a mídia o omite. Intencionalmente, o banco sobrecarrega o Judiciário, onde as demandas se arrastam por 10 a 20 anos. Enquanto a Justiça brasileira determina 1% a.m. de multa, mais correção, os bancos emprestam a 10% ao mês, no cheque especial, o que teriam de indenizar. No Santander, um dos que abusam dessa prática, seu sucessor herdará montanhas de indenizações a pagar.

17. O presidente desse banco diz que empresta para consumo e investimentos, mas quais são esses investimentos? - Operações financeiras alavancadas em: derivativos, como credit default swaps (CDS) e mortgage-backed securities (MBS); manipulações nos mercados de commodities, opções, títulos e ações; apostas em índices de juros, taxas de câmbio etc.

Ideologia zero - O crédito utilizado no financiamento de bens duráveis como automóveis não é uma das razões do sucesso (parcial) do Governo Lula?

18. No Brasil, emprestaram a consumidores, financiaram a aquisição de bens de consumo durável, criando uma bolha que tende a estourar, porquanto a combinação de taxas de juros abusivas e de superexposição (excesso de despesas financiadas em relação à capacidade de pagamento dos devedores) gerou altíssimos níveis de inadimplência.

Ideologia zero - Não estou visualizando nenhum estouro no Brasil. Estimo um crescimento do PIB de cerca de 4% para os próximos dois anos. Com essa redução signficativa da expansão do mercado o sistema terá condições de evitar qualquer crise mais grave.

19. Com a recessão econômica os tomadores dos empréstimos sofrem decréscimo de renda ou, no melhor dos casos, não têm crescimento de renda suficiente para fazer face às despesas com juros e amortizações. Quando isso ganha vulto, dá-se o estouro das bolhas.

Ideologia zero - No Brasil não haverá recessão econômica. A salvação do capitalismo depende hoje dos países emergentes! A própria China continuará crescendo, embora a taxas menores.

20. Quanto ao financiamento a atividades produtivas, houve algum, mas foi marginal em relação ao realizado por bancos públicos: BNDES, Caixa Econômica, Banco do Brasil e Nossa Caixa.

Ideologia zero - Quer dizer então que o Governo Lula literalmente "entregou o ouro para o bandido"?

21. Mundialmente, onde está a eficiência dos grandes bancos privados, se não para faturar somas inconcebíveis em operações especulativas e até fraudulentas, que depois geraram rombos imensos? Os rombos levaram os bancos centrais e os governos dos EUA e de países europeus e ao Banco Central Europeu, submetidos àqueles bancos, a emitir dezenas de trilhões de dólares para evitar que eles afundassem com seus ativos podres.

Ideologia zero - Esse fenômeno acabou de acontecer e não poderá se repetir pelo menos nos próximos 50 anos. O capitalismo vai aprendendo a corrigir suas falhas, de modo a se manter de pé, ao lado da pobreza mundial. Afinal a exploração do homem pelo homem se vale de estratégias e tecnologias bem arquitetadas. O homem é o lobo tecnológico do homem.
22. O Santander é um braço do grupo britânico Inter-Alpha, cujos ganhos dependem cada vez mais das taxas de juros usurárias com que o Banco Central do Brasil favorece os bancos, e a sangria sofrida pelos brasileiros pode atingir dimensões ilimitadas, por estar esse banco, além de outros, em vários países, com ativos podres em montante muito superior ao seu capital.

Ideologia zero - O Bacen não tomará as providências cabiveis para evitar uma crise do Santander no Brasil?

23. Além disso, deve haver um limite para a emissão de trilhões de euros, para socorrer bancos nessa situação, criada pela irresponsabilidade, desonestidade e incompetência dele, após terem causado prejuízos incomensuráveis à maioria da população dos países em que operam, os quais só tendem a aumentar.

Ideologia zero - Que interesse teriam os donos do poder financeiro em criar uma crise de gigantescas proporções para o sistema capitalista se eles dependem deste sistema?

24. Com efeito, tanto na Europa como nos EUA os orçamentos públicos já estão com déficits de tal monta, e as emissões já foram de tal ordem, que os títulos públicos já se encontram desacreditados, e não há mais como realizar novas operações de socorro (bail-out) em favor dos bancos privados sem causar a desordem e a desestruturação total das economias nacionais.

Ideologia zero - Creio que a crise lá fora é um assunto que precisaria ser discutido à parte.

25. Finalmente, o terceiro dos papéis salientados pelo presidente do Santander: prestar serviços aos clientes. Ora, no Brasil, com o beneplácito do Banco Central, que trabalha em favor deles e contra a sociedade brasileira, os bancos cobram taxas e tarifas de tal monta por tais “serviços”, que todas as suas despesas para funcionar são cobertas pela receita dessas taxas e tarifas, e ainda sobra muito dinheiro. Assim, os ganhos monumentais das operações financeiras não sofrem qualquer diminuição decorrente do custeio da máquina administrativa, mas, ao contrário, são aumentados com a diferença entre a receita das tarifas e as despesas operacionais.

Ideologia zero - Neste ponto teriamos que examinar a contabilidade do banco para verificar qual é participação no lucro das taxas, tarifas e resultados das operações financeiras.

Continuaremos assim que o Dr. Adriano conceder nova entrevista.
Esta e outras matérias podem ser lidas no site:

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