O COLAPSO MUNDIAL E O BRASIL
O Brasil sofre, de 1945 ao presente, processo de crescente subordinação à oligarquia do poder mundial, com breve e parcial interrupção de
No artigo “Contas externas vulneráveis”, publicado
Demonstrei também que as reservas internacionais carecem de consistência, pois decorrem
Em “A nova crise do real” (nº 46, setembro de 2008), observei: “Para futuro não muito distante gesta-se outra crise do real e mais um desgaste insuportável para a economia brasileira semelhante ao de 1998, quando a taxa dos títulos públicos chegou a 50% aa., sem que isso tenha evitado a galopante desvalorização do real iniciada em
Sendo a vulnerabilidade crônica e estrutural, as divisas estão fadadas a sair, engordadas pelos ganhos aqui auferidos, ao se tornar crítico o déficit nas transações correntes com o exterior. Isso aconteceria mesmo sem o impacto do colapso financeiro e da depressão econômica nos EUA e Europa. De qualquer modo, um e outra aceleraram a sangria das reservas, não só porque o capital se tornou quase indisponível no exterior, mas também pela queda dos preços das commodities.
Tudo isso ficou manifesto no resultado negativo de US$ 7,1 bilhões no balanço de pagamentos em novembro de 2008, recorde desde 1999. A própria balança comercial (exportações menos importações) que vinha tendo grandes saldos, caiu 12,1%, até novembro, em relação a 2007.
A balança havia totalizado superávit de US$ 190,2 bilhões, de
De fato, o saldo comercial foi quase que totalmente anulado pelos déficits de serviços e de rendas (juros e lucros),
Será o caso de conferir se, como creio, se dará a crise do real, ou se tem razão o dono da política econômica, aboletado no Banco Central, o qual se gaba do nível recorde de reservas (US$ 209 bilhões em 17.12.2008) e assegura que haverá crescimento econômico em 2009.
Ele omitiu que o recente aumento das reservas se deve ao adiantamento do Federal Reserve (FED) dos EUA (US$ 30 bilhões até abril de 2009). Como observou Cesar Benjamin, o capital de curto prazo entendeu o recado: tem alguns meses para ir embora sem grandes perdas.
O Brasil já se prejudicou demais por se atar ao sistema mundial de poder e às decisões deste. Agora, o colapso financeiro e econômico mundial faz pairar sobre o País perspectiva ainda mais trágica que essa lamentável retrospectiva.
Livrar-se da exponenciação dos graves desequilíbrios e libertar-se dos mecanismos de saqueio só será possível sob novo quadro institucional, por sua vez, irrealizável sem a remoção das falhas estruturais. A principal delas consiste no controle dos meios de produção por empresas transnacionais sediadas no exterior e pode ser medida pelo registro no Banco Central dos “investimentos estrangeiros diretos”.
De 1996 e 2001, as entradas líquidas a esse título superaram os US$ 100 bilhões (ingressos de US$ 157 bilhões e saídas de US$ 56,6 bilhões). Segundo o IEDI (
Em 1995 as empresas estrangeiras respondiam por 31,8% daquele déficit. Esse percentual subiu para 61% em 2000. Mais: as estrangeiras responderiam por 67% do aumento da dívida externa no período.
Há mais fatos a acrescentar à avaliação do IEDI.
1) Os ingressos investimentos estrangeiros diretos foram ainda maiores de
2) O grosso dos lucros das transnacionais é remetido ao exterior a outros títulos que a remessa oficial de lucros, esta cresce vertiginosamente: de US$ 16,4 bilhões em 2006 para US$ 21,3 bilhões em 2007, quantia igual a quase cinco vezes a média de
3) O grosso do capital estrangeiro no Brasil provém de recursos ganhos localmente e de subsídios governamentais.
Sem falar dos tradicionalmente alinhados ao Império anglo-americano, é preocupante que não avaliem adequadamente a realidade figuras destacadas dentre os não indiferentes à autodeterminação do País e à prosperidade da sociedade em seu conjunto.
Em recente seminário patrocinado pelo Governo do Paraná, disse
Na verdade, os números são ainda mais assustadores do que esses. Mas, mais importante é entender que vêm de muitos séculos os excessos dos concentradores financeiros. A origem direta dos atuais remonta a antes de 1960, quando começou a se intensificar a movimentação de ativos financeiros fora do controle dos Estados nacionais, nos refúgios fiscais offshore, a maioria em possessões britânicas e holandesas, e também em centros europeus como Londres e Zurique.
Do mesmo modo, as imposições do Império no âmbito da globalização não foram as razões principais de ter sido o Brasil brutalmente saqueado nos últimos 18 anos, através das negociatas das privatizações e de n outras jogadas contra o País. Durante os mesmos 25 anos de que fala Lessa, grande número de países não sofreu da
Por que? Porque suas estruturas econômicas formadas ou reconstituídas após a 2ª Guerra Mundial, e aí vão mais de 60 anos, não se fizeram com base em empresas de capital estrangeiro, nem subsidiando essas empresas, como ocorreu no Brasil.
O empresário Eugênio Staub falou do “crescimento brilhante” do Brasil , de
Staub não entende que só entramos nessa conversa, porque, de 1954 em diante, aumentaram as dependências financeira e tecnológica, levando a déficits de transações correntes devidos aos mecanismos de transferência dos recursos ao exterior. Daí elevou-se a dívida externa, a alavanca que fez pseudo-governos se curvar às imposições do Banco Mundial e do FMI.
Estas aceitam o que deseja quem tem poder de pressão. O crédito secou para as demais atividades produtivas. Empresas nacionais, além dos efeitos da crise, encalacraram-se
A resposta foi liberar R$ 56 bilhões de depósitos compulsórios dos grandes bancos, que estão comprando carteiras de bancos menores e depositando títulos públicos no BACEN, sobre os quais auferem juros de 13,75% aa. Até o início de dezembro o governo havia gasto R$ 150 bilhões “combater a crise financeira”. A maior parte para “segurar” a taxa de câmbio e financiar swaps cambiais.
O economista Dércio Munhoz lembra que há R$ 150 bilhões em papel-moeda depositados no Banco Central, e a economia produtiva permanece à mingua. Os bancos públicos financiam montadoras de automóveis e fusões de empresas.
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